Entrevista: DERME DF entrevista o missionário da IAP na Índia


Após realizar conferências missionárias em diversas igrejas no Distrito Federal, o missionário enviado por Deus através da Igreja Adventista da Promessa (IAP) à Índia concedeu uma entrevista exclusiva ao Departamento Regional de Missões e Evangelismo do Setor Distrito Federal (DERME - DF). Por servir em uma região hostil ao Evangelho, para segurança do missionário e de sua família, o seu nome não será divulgado. Não deixem de ler a entrevista completa e conhecer um pouco do que Deus tem feito através do seu servo naquele país. Boa leitura!


DERME- DF – Missionário, para nós é um privilégio compartilhar de sua experiência. Uma experiência tão rica que com certeza irá enriquecer a vida dos missionários da IAP aqui no Brasil.
Missionário – Primeiramente, quero agradecer o convite do Departamento de Missões. É um prazer estar aqui com os irmãos, e será um prazer responder essas perguntas trazendo um pouco de nossa experiência e usar esse material para que seja um incentivo a muitos que irão ler essa entrevista.

DERME- DF – O que é Missões para você?
Missionário – Para mim, Missões é ser testemunha de Cristo, é ser sal da terra, luz do mundo, em todas as estações da nossa vida. E isso engloba a minha vida social, a minha família, a minha cultura, a minha igreja. Então, eu entendo que sou uma testemunha de Cristo onde eu estou e onde for eu devo ser uma testemunha. Devo através de a minha vida estar pregando o Evangelho, seja isso em qualquer lugar. Acredito que a nossa missão é integral; ela abrange todas as esferas da nossa vida. Missões para mim é simplesmente ser uma testemunha de Cristo. Independentemente do espaço físico, de território ou de qualquer outra circunstância. O nosso maior objetivo em sermos seguidores de Cristo é de testemunhar sobre esse Cristo que nós acreditamos e servimos. Para mim, missões é isso: é ser testemunha de Cristo em todos os lugares.

DERME- DF – Sabemos que você já foi missionário em outros países. Conte-nos especificamente, como aconteceu o seu chamado para Índia?
Missionário – Aconteceu em 2003 quando nós começamos a orar por Missões em minha igreja local, em Parada de Taipas, SP. Não entendíamos direito o que era Missões, como se fazia Missões, mas começamos a orar. Foi quando naquele ano houve um congresso de missões na IAP, principalmente sobre Missões Transculturais. E foi onde eu realmente entendi Deus me chamando para entregar minha vida para os povos não alcançados. Foi ali que eu entendi o chamado de Deus para minha vida. Foi através de um Congresso de Missões onde se falou muito sobre a necessidade do mundo, a carência do mundo em ouvir o Evangelho. Então foi em 2003 que eu realmente ouvi e entendi o chamado de Deus na minha vida. Em meu treinamento, Deus não nunca me falou sobre um lugar específico como acontece com alguns. Quando Deus chama e separa a pessoa e diz: Você vai trabalhar com esse povo, com essa nação. Comigo e com minha esposa não aconteceu isso. Deus nunca falou claramente para que lugar ou com que povo nós deveríamos trabalhar. Foi uma decisão até, eu diria, racional. Porque nós vimos que na Índia nós teríamos a oportunidade de trabalhar com pelo menos três blocos religiosos. Nós teríamos contato com o Budismo, com o Hinduísmo e com o Islamismo. Então isso nos daria uma bagagem, uma experiência para que depois, em qualquer parte do mundo que nós fôssemos onde exista a presença de um desses blocos, nós já teríamos vivido essa experiência na Índia. Foi quando nós decidimos ir para a Índia. Para termos essa experiência em sermos expostos a tantas religiões e diversidade de crenças que não existe em qualquer no mundo.


DERME- DF – Ao chegar à Índia qual foi a sua impressão?
Missionário – Quando chegamos à Índia a impressão que tivemos foi muito diferente, estranha. Porque é uma cultura totalmente diferente. Muita gente na rua, muito barulho, o cheiro é diferente. Então nós ficamos um pouco assustados. Claro que já havíamos estudado bastante, mas na prática é outra coisa. Quando chegamos lá, a impressão que tivemos foi assustadora, mas ao mesmo tempo foi algo que nos chamou a atenção, nos atraiu para descobrir mais nesse mundo, fez com que nós imergíssemos nesse mundo chamado Índia.

DERME- DF – Quais as dificuldades que você enfrentou ao chegar à Índia?
Missionário – Eu acho que a maior dificuldade de qualquer missionário em qualquer parte do mundo – a primeira dificuldade, é a língua. É você não conseguir se comunicar com o povo. Apesar de nós falarmos o inglês, nós não falávamos a língua do povo. Na região onde moramos é o Híndi. Então você se torna uma criancinha, porque você não consegue comprar um pão, não consegue fazer coisas simples que aqui no Brasil fazemos com tanta naturalidade. Lá se torna um desafio diário. Portanto, a primeira dificuldade foi a comunicação. Em segundo lugar, é a saudade da família. Carência, porque nós somos muito apegados à nossa família. Então, saudade da família, da igreja, não ter uma igreja para congregar, os irmãos com quem você sempre estava em comunhão. A saudade da família é algo que pesa muito. É um dos grandes desafios que enfrentamos também. E aí vem a questão da comida, que é diferente. Na Índia é proibido comer carne, não se mata vaca. A maior parte da população é vegetariana. Então lá a gente não tem o nosso famoso churrasquinho. Então sentimos falta da comida, das roupas. Tudo era um desafio, mas eu acho que o mais difícil é você não conseguir se comunicar com o povo e a saudade da família. São dois pontos que pesam muito, creio que para qualquer missionário.

DERME- DF – Há quanto tempo vocês estão na Índia?
Missionário – A primeira vez que fomos à Índia foi em 2007 e estivemos lá por dois períodos totalizando dois anos completos. Após o primeiro ano voltamos ao Brasil para ter a nossa primeira filha, e depois, um segundo período de um ano em que viemos ao Brasil para ter o nosso segundo filho.

DERME- DF – A Índia é o sétimo maior país do mundo em extensão e abriga a segunda maior população do Globo, mais de um bilhão de habitantes. Estima-se que por volta do ano 2050 a Índia ultrapasse a China e se torne o país mais populoso do planeta. Este enorme contingente se torna um problema para a propagação do Evangelho de Cristo, uma vez que os missionários na Índia sofrem perseguição e vivem em sigilo para não serem pegos?
Missionário – Isso dificulta demais, porque não se tem liberdade religiosa. Você perde muito tempo buscando estratégias de como falar, de como compartilhar o Evangelho com essas pessoas, porque não se tem os meios de comunicação, não se tem a mídia como o rádio, televisão, folhetos como uma mídia impressa, não se pode usar revista ou um jornalzinho cristão, então isso dificulta muito. Você gasta muito tempo para compartilhar o Evangelho já que, geralmente, o Evangelho é pregado corpo-a-corpo, de pessoa a pessoa, família a família. Então é desafio enorme, e temos essa dificuldade porque lá não temos essa liberdade religiosa como temos aqui no Ocidente.

DERME- DF – Por causa da religiosidade na Índia existe uma estratégia específica para a pregação do Evangelho em todo o país, ou para cada região há uma estratégia diferente?
Missionário – Para cada região muda. Porque se você trabalha com certo tipo de povo ou etnia você usa uma determinada estratégia, mas se você trabalha com outra etnia precisa utilizar outra estratégia. Por exemplo, quando você trabalha com as classes mais baixas, geralmente se utiliza da área social. Você oferece alguma coisa para aquela pessoa, seja um curso, um prato de sopa, enfim, algo que de alguma maneira possa mudar a vida daquela pessoa socialmente, e aí sim você tem a oportunidade de compartilhar o Evangelho. Por outro lado, quando você trabalha com as classes mais altas, com pessoas mais estudadas, a estratégia muda porque as pessoas são mais cultas, intelectuais, então a abordagem muda. Depende de cada região, de cada grupo de pessoas que você trabalha; é preciso usar uma estratégia diferente. Porém, atualmente fala-se que existe cerca de 20 milhões de evangélicos secretos na Índia. É difícil até ter um censo exato de quantos evangélicos existem na Índia porque as igrejas são proibidas e as pessoas se reúnem nas casas. Portanto, as estratégias e abordagens mudam de região para região. Algumas regiões são bem mais fechadas, outras são mais abertas ao Evangelho.

DERME- DF – Qual é o projeto da Igreja Adventista da Promessa na Índia?
Missionário – O nosso projeto é formar pequenas igrejas. Quando se fala igreja é dentro do contexto da Índia; não estamos falando de construção, estamos falando de grupos de pessoas. Primeiramente formar líderes indianos, porque os próprios indianos podem levar o Evangelho para a sua própria cultura. Posteriormente, eles formarem pequenos grupos, pequenas igrejas em toda a Índia. Nós temos o desejo de morar na capital do país porque lá teríamos contato como várias etnias, com vários grupos de pessoas, e a partir dali formar líderes, e esses líderes serem enviados para plantação de igrejas em diferentes partes da Índia. Então esse é o nosso projeto na Índia: plantação de igrejas, pequenos grupos, em toda a Índia.

DERME-DF – Ao viver em tantos países diferentes e ter que se adaptar a tantas culturas, alguma vez você se sentiu sem cultura própria?
Missionário – Sim. É interessante a pergunta. Na verdade você começa a se tornar como uma esponja. Vai absorvendo um pouquinho da cultura e dos costumes de cada país onde passa. Minha cultura é brasileira, eu sou brasileiro e essa é minha identidade. Mas o meu coração é dividido, porque eu também me sinto parte da cultura indiana. Então às vezes isso traz confusão na nossa cabeça, de que cultura eu faço parte. E às vezes quando voltamos ao Brasil, temos dificuldade de recomeçar a nossa vida aqui, de nos readaptarmos à nossa própria cultura que é a brasileira, porque vamos absorvendo tantos costumes, que perdemos um pouco da nossa identidade original. Acabo me tornando um pouquinho brasileiro, um pouquinho venezuelano, um pouquinho inglês, um pouquinho indiano. E o mais bonito de tudo isso é que você vê a diversidade que Deus tem nos povos e como Ele trabalha em cima dessa diversidade dos povos, das diferentes culturas. E você começar a aprender a ser um pouquinho menos patriota. Entender que a sua cultura não é melhor do que as outras, só é diferente. São costumes diferentes, nem melhores nem piores, simplesmente diferentes.

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